“Eu amo isso, um lugar onde
desde a primeira vez que entrei pude ver o encanto. Cidade pouco desenvolvida, trabalho voluntário, confesso que vim pra cá para fugir, mas agora posso ver
que foi a melhor escapatória que poderia ter encontrado.
Após uma confusão política o
lugar ficou destruído, pessoas traumatizadas e perdidas, então onde todos
esperavam ver tristeza, caos e mais confusão, viram o altruísmo, mesmo
possuindo pouco, um ajudava o outro. Quando uma sociedade começou a ser
construída com a chegada de escolas e pequenos empregos, as pessoas continuaram
se ajudando, torcendo um pelo outro, como uma família grande demais, como uma
família que surgiu do nada.
Foi por essa história que
resolvi vir até, para “pelo menos conhecer”, então decidi. Era pra esse lugar
que eu queria dedicar meu tempo, falar sobre tudo que eu sei, que aprendi no
que chamam de “Países Grandes”. Então comecei auxiliando os governantes,
depois, indo às escolas que tinham menos que o necessário e falando sobre
histórias mágicas, números, sobre o poder das palavras e sobre como a história
daquela cidade era maravilhosa, sobre a capacidade desse lugar de ser gigante,
mas não exatamente na extensão territorial, mas na genuinidade de um povo
acolhedor, sorridente e gentil, na esperança que brilhava em seus olhos, nas
coisas boas que poderiam fazer.
Após alguns dias, eu conheci
o lugar onde me encontrei, onde me senti completa. O lugar onde as pessoas
enviam e recebem cartas, os correios. Talvez tenha sido o aroma do papel, ou da
tinta, talvez aquela organização quase que impecável, talvez a simplicidade,
talvez os sorrisos. Mas, somente no fim da primeira semana lá que eu realmente
soube que o que me encantava não eram apenas as coisas que o lugar tinha, mas
os sentimentos que as pessoas demonstravam pelo lugar.
As conexões com outros
lugares começaram e ainda feitas por cartas, primeiramente só entre
autoridades, mas depois, pouco a pouco, para pessoas. Então ali eu via a
esperança, a saudade, o desespero por notícias daqueles que foram pra outros
lugares...
Principalmente, o amor, eu
ainda sorrio quando penso em histórias de casais apaixonados, daquelas bem
melosas, mas que de coisinha em coisinha, vai mostrando um amor lindo,
recíproco. E sorrio também quando me contam de uma amizade anos, de amigos que
acabaram separados, mas algo de muito lindo, impediu a separação total, a
desconexão.”
Ler isso agora dói muito,
dói saber que o que eu escrevi naquele pequeno caderno de anotações deixou de ser
real, que após usarem crenças para profetizar a dor, sofrimento e desigualdade,
tudo foi acabando, e no lugar do brilho eu via ódio nos olhos das pessoas. É
cruel, mas é a verdade, daqui algum tempo não restará nada e nós seremos os únicos
culpados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário